segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Primórdios do Presbiterianismo na Cidade de São Paulo - Eduardo Carlos Pereira e as Missões Nacionais

Embora o presbiterianismo crescesse, espalhando-se pelas diversas regiões do país, com suas igrejas, escolas e outras atividades, é necessário pensar que esse crescimento não aconteceu como uma ilha de paz. 
Em 1889, havia 52 igrejas organizadas no Brasil e centenas de pontos de pregação. Os pastores nacionais são 13, fora as escolas e alguns hospitais. Toda essa estrutura é sustentada pelos comitês de missões americanas.
Dois comitês dirigem as missões brasileiras: Nashville e New York, igreja sulista e igreja nortista. Em território americano, sulistas e nortistas presbiterianos estão em franca dissensão sobre o apoio ou não aos republicanos ou aos confederados. No Brasil, trabalham juntos, mas não sem diferenças.
As crises políticas e econômicas americanas influem e pressionam as missões nacionais. Enquanto, por lá, o dinheiro diminui, as necessidades da obra missionário no Brasil só aumentam. Uma grande discussão toma lugar no Brasil, no decorrer da última década do século XIX: o sustento da igreja deve caber primordialmente aos nacionais?
Em 1886 o Presbitério do Rio assume o Plano de Missões Nacionais e em 1887 cria-se uma revista de missões nacionais, com a finalidade de levantar fundos em todas as igrejas, para que as mais ricas ajudem no sustento das mais pobres. Para dirigir esse projeto fora designado o eloquente e jovem Rev. Eduardo Carlos Pereira (pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo).
Os anos se passam e o Plano de Missões Nacionais alcança muita adesão das igrejas brasileiras. Sob o comando de Eduardo C. Pereira, um grande número de representantes da a revista de Missões Nacionais, em sua grande maioria, leigos das igrejas locais, comandam uma nova etapa do presbiterianismo nacional. A revista anunciava a plantação de novas igrejas, as vitórias de cada campo e estimulava a participação dos membros na evangelização de todo o território nacional.
O projeto de crescimento nacional ainda dependia, e muito, das ofertas vindas das missões americanas. Essas tinham perspectivas diferentes sobre como fazer o trabalho. E impunham uma série de exigências para que os nacionais cumprissem. E, principalmente no campo educacional, propunham que suas escolas, em particular o Colégio Protestante de São Paulo se valesse de seu prestígio para influenciar a sociedade brasileira. Por outro lado, Eduardo C. Pereira, que estava à frente dos pastores nacionais, entendia que essa educação deveria ser oferecida primordialmente à igreja. 
Essas diferenças e a crescente adesão ao Plano Missionário Nacional foram dando forma ao pensamento de E.C. Pereira e muitos outros pastores e presbíteros brasileiros. A necessidade de uma igreja sem a ingerência das juntas americanas havia se tornado um elemento de grande importância para este grupo. 
Outras questões comporão, ao lado desta, os fatores motivadores para que no ano de 1903, a Igreja Presbiteriana do Brasil sofresse o seu primeiro cisma, que deu origem à Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

(fontes consultadas: Anais da 1ª Igreja de São Paulo 1863-1903 - autor: Vicente Themudo Lessa; A igreja Presbiteriana no Brasil, da autonomia ao cisma - autor: Boanerges Ribeiro). 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Primórdios do Presbiterianismo em São Paulo - Igrejas e Escolas Andando Juntas a Virada do Século XX

Educação e evangelização andaram juntas nas primeiras décadas do presbiterianismo paulistano. A Escola Americana ganhava notoriedade e os pastores presbiterianos eram ajudados por isso, uma vez que a sociedade fazia uma correlação entre presbiterianismo e cultura.
Prédio da Escola Modelo construído na praça da república
simbolizando o interesse dos republicanos pela educação
(mais tarde "Colégio Caetano de Campos")
Já em 20 de agosto de 1872, o jornal Correio Paulistano parabenizava a Escola Americana por se tornar um exemplo de ensino popular, mostrando que o modelo educacional presbiteriano vinha ao encontro das novas aspirações republicanas brasileiras. Esse protagonismo da educação presbiteriana em São Paulo foi crescendo fortemente desde os primeiros anos da Escola Americana e consolidou-se com a vinda de um novo diretor que assumiria a frente das unidades da Escola Americana, falamos do Dr. Horace Manley Lane.
Em 04 de julho de 1885, inaugurou-se o primeiro grande prédio da Consolação. O orador oficial seria Rui Barbosa, mas por causa de uma enfermidade, não compareceu, enviando apenas o discurso para que fosse lido. Foi após essa inauguração que o Dr. Horace Lane assumiu os trabalhos à frente da escola.
O trabalho da Escola Americana tornava-se muitíssimo conhecido dos paulistanos, especialmente das elites. Logo o Dr. Lane passou a figurar entre as principais lideranças educacionais da cidade. Assim, os presbiterianos eram vistos como excelentes educadores no seio da sociedade paulistana.
Por determinação do governador Prudente de Morais e sob o comando do Dr. Rangel Pestana, admirador dos métodos educacionais presbiterianos, o professor Caetano de Campos foi nomeado diretor da Escola Normal de São Paulo com a finalidade de iniciar um processo de reforma do ensino público paulista.
Caetano de Campos, desejando inovar os métodos educacionais paulistanos, procurou ajuda do Dr. Horace Lane e da Escola Americana, quando implantou, pelo finais do século IX, a Escola Modelo, que deu lugar ao hoje conhecido Colégio Caetano de Campos, na Praça da República.
Com a ajuda de Lane, Caetano de Campos serviu-se dos bons serviços da professora Márcia Percy Browne, que tinha vindo do Rio de Janeiro para lecionar pedagogia na Escola Americana. Ela, como dizia Caetano de Campos, fez o excelente trabalho de governança dos primeiros anos da Escola Modelo Paulistana, dividindo o seu tempo entre as aulas na Escola Americana e a direção da nova escola do governo provincial paulista. Ajudaram-na nessa tarefa outras professoras de sua equipe no colégio presbiteriano.
Seguindo este diapasão, os presbiterianos paulistanos, aliando escolas e igrejas, foram ganhando espaço nas diversas vilas paulistanas e camadas sociais da virada do século XX. Enquanto a Escola Americana ganhava a aprovação da sociedade, as igrejas presbiterianas se aproximavam das famílias paulistanas de diversas camadas sociais. Pessoas abastadas como a  filha do Barão de Antonina, Maria Antônia da Silva Ramos, que se casara na Primeira Igreja de São Paulo com o tenente-coronel Mariano José Ramos e também suas servas, escravas, Joana e Leonor, faziam parte do rol de membros da Primeira Igreja.
Profª Márcia P. Browne
Nessa época, já havia na cidade de São Paulo, mais duas igrejas organizadas: 2ª IP de São Paulo (1893) e a IP Filadélfia (1899). Essas duas igrejas, juntaram-se em 26 de agosto de 1990 para formar a Igreja Presbiteriana Unida, pastoreada pelos Reverendos Zacarias de Miranda e Modesto Carvalhosa.
A IP Unida de São Paulo, instalada na Rua Helvétia, seria uma segunda grande força do presbiterianismo paulistano, especialmente após o ano de 1903, quando o presbiterianismo sofreu o seu primeiro cisma geral, surgindo, a partir da primeira igreja de São Paulo, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Iniciou-se, então, uma nova fase para o presbiterianismo nacional e paulistano. A Primeira Igreja, agora seguiu, liderada pelo Rev. Eduardo C. Pereira, sua trajetória denominacional independente e a Igreja Unida de São Paulo, passou a ser a principal Igreja do presbiterianismo original na capital paulistana. Assim, foi que o presbiterianismo paulistano começou o século XX. 
(Fontes consultadas: Anais da 1ª Igreja de São Paulo 1863-1903 - autor: Vicente Themudo Lessa; Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil 1859-1900 - autor: Alderi S. de Matos; Protestantismo e Educação Brasileira - autor Osvaldo H. Hack).   



domingo, 8 de setembro de 2013

Primórdios do Presbiterianismo na Cidade de São Paulo - A visita do Imperador D. Pedro II à Escola Americana

Dr. Horace Lane
Diretor da Escola Americana
O casal Chamberlain, dirigente da Escola Americana, entendia que as missões presbiterianas deveriam ter um especial interesse na educação. Por isso, o esforço e o investimento na construção da primeira sede própria na esquina da Av. São João com a Ipiranga fora apenas o início.
O prédio, em 1878, também abrigara a Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo, que ali se reuniria até 1884, quando enfim mudaria para a Rua 24 de maio (atual Nestor Pestana), em um templo próprio, que se tornaria, mais tarde, na conhecida Catedral Presbiteriana Independente.
Os cultos realizados no “Salão Nobre” da Escola Americana eram muito apreciados. Visitantes se encantavam com a beleza do local de reuniões e principalmente com os hinos presbiterianos, acompanhados pelo órgão tocado por Miss Dascomb.

A missão dos Chamberlain continuava. Tinham uma chácara no subúrbio de São Paulo, comprada em 1874 de Dna Maria Antonia da Silva Ramos. Ali, planejavam os Chamberlain, dariam início ao internato dos rapazes e ao “Curso Superior”.
A Escola Americana da Rua São João crescia. As aulas do Internato Feminino tinha bons professores e até alunas-mestras que já se engajavam na obra de educar os filhos dos paulistanos. O curso ministrado era chamado “Classe Normal’. A “Chácara Consolação” começava a ser preparada para o Internato Masculino e o curso superior de 3 anos. Contudo, o Rev. Chamberlain não tinha um diretor que assumisse tão grande tarefa.
Em 1878, a Escola Americana recebeu a visita honrosa de Sua Majestade o Imperador D. Pedro II. Era conhecido o apreço de Sua Majestade por estabelecimentos de ensinos e quando os visitava sabatinava os seus diretores. Por duas horas esteve a andar pelas salas e a inquirir professores.
Ao deixar a sala dirigida por Dna Adelaide Luiza de Molina, perguntou-lhe: “Que doutrina se ensina aqui?” A experiente professora respondeu: “O evangelho só”. Disse ele: “Já sei, já sei, a doutrina protestante”. O diálogo ficara um pouco ríspido com os dirigentes da Escola, quando o Imperador disse: “Se eliminarem o ensino religioso podem contar com a nossa proteção”. Entretanto, o diretor respondeu com firmeza: “A Bíblia tem estado aberta na escola desde o primeiro dia de sua abertura e, quando fechar-se, fechar-se-ão as portas da Escola Americana”. O Imperador encerrou a conversa com a seguinte frase: “Cada um tem direito à sua opinião”.
O Jornal do Comércio destacou que o Imperador demostrara muito apreço pela Escola Americana, declarando que era a primeira vez que vira uma escola daquele gênero no Brasil. A Igreja e a Escola Americana andavam juntas nos primeiros anos do presbiterianismo paulistano.

(Fontes consultadas: Anais da 1ª Igreja Presbiteriana de São Paulo 1863-1903 - autor: Vicente Themudo Lessa)