sábado, 22 de dezembro de 2018

O Natal de Jesus e o Ide Por Todo o Mundo

Vimos a sua estrela  no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2.2)- foi assim que os magos souberam do nascimento de Jesus; “Um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles” (Lc 2.9) - esta foi a maneira como os pastores tomaram ciência do nascimento de Jesus, quando a miríade celestial cantou a glória de Deus aos homens; “O que vem depois de mim, contudo, tem a primazia, porquanto já existia antes de mim” (Mc 1.15) - este era o modo como um profeta deu conhecimento às multidões peregrinas nos desertos sobre a chegada do Messias. 
O que há de comum nestes relatos? Eles nos mostram o poder de Deus intervindo na realidade do homem para fazer cumprir a sua vontade e trazer ao mundo o Salvador. Desta forma, meus amados irmãos, todos podemos dizer que a Salvação dos filhos de Deus não foi apenas uma tentativa bem sucedida de resgate, mas o resultado esperado de um plano, executado não na força do homem, mas no poder sobrenatural de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).  
Este é o ponto central dessa nossa meditação, isto é, pensar sobre o fato de que Deus planejou e realizou o ato da salvação dos seus filhos. Mas não somente isso, devemos pensar que todos estes atos sobrenaturais, mediados pelo uso de estrelas, seres celestiais ou mesmo profetas, não eliminaram o simples uso de homens de carne e osso como nós. 
Pense que estes textos, embora contenham elementos de sobrenaturalidade evidente, eles também incluem a participação peculiar de homens, quer magos, vindos do Oriente, pastores que apenas apascentavam seus rebanhos na vigília da noite, ou um homem, nascido de mulher, cuja missão o levava a viver nos desertos e comer gafanhotos e mel. 
A gloriosa história da Salvação dos filhos de Deus, revela a instrumentalidade humana e a decisão de Deus de fazer uso dela. Todos sabemos que  o Salvador foi um filho prometido desde Gênesis 3.15. Dali, em diante, foi a instrumentalidade das famílias e das pessoas, as genealogias de Jesus são uma demonstração desse fato.
Homens são salvos, quando Deus move homens para isso. Essa é uma lição que precisamos relembrar no Natal. Não podemos esperar que as pessoas sejam alcançadas ou que Cristo venha aos seus corações, sem que nós, sejamos os mensageiros e anunciadores desse Evangelho. Natal é a celebração da vinda de Cristo e o Ide da Igreja anunciadora dessa a Mensagem. Os Evangelhos começam com o Natal e encerram sua mensagem no Ide.

sábado, 3 de novembro de 2018

Antecedentes da Reforma - A Tradição Católico Ortodoxa


Nos dias do Imperador Constantino, a mudança da Capital do Império levou para o Oriente, mais particularmente para a cidade de Bizâncio, depois Constantinopla, o centro das atenções, fortalecendo, desta forma, a influência e a política da parte oriental do Império Romano.

Depois de Constantino, no final do IV Sérculo, Teodósio assumiu o Império e é ele quem declarou o Cristianismo como a religião oficial do Império. Após sua morte, o Império se dividiu ainda mais, uma vez que seus filhos separaram a administração  imperial entre Roma e Constantinopla. A cultura e a língua grega prevaleciam na parte Oriental e o Latim e a cultura romana no Ocidente.
O Cristianismo, por sua vez, continuava sendo único nas duas partes do Império, mantendo-se como a principal razão da unidade imperial, mas não escapou às mesmas influências culturais que, aos poucos, faria distinguir as Igrejas do Ocidente e do Oriente. Pode se dizer que a igreja ocidental, influenciada pela cultura romana, tinha uma percepção mais prática da teologia. Já a igreja oriental, por usa vez, tinha uma atitude mais reflexiva e experiencial.
Essas diferenças começaram a ser vistas também na teologia das duas partes do Cristianismo. Os Ocidentais, seguindo a tradição de Agostinho, preferiam a autoridade objetiva das Escrituras e os Credos escritos, assim como a tradição magisterial da igreja, especialmente na ascensão do Papa Gregório, o Grande.
A igreja oriental, buscou na teologia de Orígenes sua maior influência e orientação, resultando numa forte doutrina mística-racional, que favorecia a liturgia da Igreja como a principal forma de seu cuidado cristão. Desta forma, a tradição da liturgia cristã tornou-se central para a Igreja, fortalecendo seu conceito de ortodoxia litúrgica.
Essas diferenças continuariam  distinguido as duas tradições cristãs e com o fortalecimento do papado ocidental culminaram numa grande controvérsia quanto à uma mudança ocidental do “Credo Niceno”, entre os séculos IX e XI. Os orientais acusavam os romanistas de acrescentarem a expressão “e do Filho” na frase sobre a processão do Espírito Santo: “Creio no Espírito Santo, Senhor, doador da vida, e procede do Pai e do Filho” (controvérsia Filioque).  Por isso, os cristãos orientais se diziam “ortodoxos”, uma vez que se mantinham fiéis ao Credo Antigo, sem mudanças. Isso gerou o cisma de 1054d.C. 
As tradições cristãs da alta idade média, infelizmente se apegaram na construção teológica do período medievo, em lugar de fazer um movimento de volta às Escrituras. Um retorno às Escrituras deveria ter sido a sua estratégia para reconstruir o elo de unidade. Diferentemente disto, a Reforma Protestante fará na busca de um retorno às Escrituras a sua maneira de tentar reconstruir a unidade e a identidade da Igreja. 


quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Antecedentes da Reforma - A Tradição Católico Romana


Para o catolicismo romano, afirmar que a Igreja Cristã tornou-se a Igreja Católica Romana soa como uma afirmação herética. Segundo o seu modo de pensar, a Igreja de Cristo sempre foi o que é hoje, por meio de sua comunhão com os apóstolos, por isso, a denominação Igreja Católica Apostólica Romana.
Já o protestantismo analisa a história da Igreja de Cristo e tem uma percepção de que o  Cristianismo não se constrói apenas em uma ligação de tradição com a pessoa dos apóstolos, mas com o ensino dos mesmos.  Desta forma, os protestantes compreendem que a Igreja Cristã foi perdendo, no decorrer da Idade Média, sua solidez na doutrina dos apóstolos e, portanto, assumindo uma outra identidade, menos cristã.
Até Agostinho, os movimentos teológicos da Igreja eram sempre de retorno ao ensino dos apóstolos. Portanto, os Concílios Ecumênicos, que citamos na última mensagem e o desenvolvimento da Teologia dos Pais da Igreja, eram sempre esforços de banir as heresias, especialmente aquelas sobre a pessoa e obra de Cristo e levar a Igreja de volta às Escrituras e à doutrina dos apóstolos.
Após a morte de Agostinho, surgiram tendências teológicas conflitantes e em 529dC, na França, reuniu-se um Sínodo de Orange, que definiu uma posição diferenciada da até então considerada ortodoxa, sobre o livre-arbítrio e a graça.
Neste período a teologia da Igreja ficou conhecida como “semi-pelagiana”, ficando entre a posição monergista de Agostinho, que afirmava que a salvação era exclusivamente pela graça e que o pecado tirara o livre-arbítrio humano, e a posição de Pelágio, que afirmava que a salvação era por obras, sendo o homem livre para escolher a Deus.
Essa posição intermediária, que afirmava que a salvação era pela graça sim, mas que exigia as obras humanas como fator decisivo, abriu portas para um crescimento da busca de determinadas práticas dos fiéis na intenção de cooperarem com a graça para a sua salvação.
A Para fortalecer essa teologia que se afastava da pregação dos apóstolos, a Igreja começou a desenvolver uma teologia de tradição baseada nas afirmações papais. Portanto, a teologia da Igreja passava a ser mais “romana” que “apostólica”. Esse período de fortalecimento do papado iniciou-se com o Papa Gregório I, o Gregório o Grande. Com a finalidade de manter unida a Igreja, o Papa adotou o modelo de aproximar a teologia da Igreja das práticas pagãs locais e surgiu o movimento de veneração de “santos” locais e universais.


sábado, 27 de outubro de 2018

Antecedentes da Reforma - Os Concílios Ecumênicos


Com o crescimento numérico do Cristianismo e o aumento da complexidade da Fé Cristã, advinda das diversas lutas contra heresias e o seu desenvolvimento teológico, duas importantes mudanças se fizeram necessárias: a primeira foi a necessidade de uma organização formal do Cristianismo, que nos três primeiros séculos se construía de forma local e informal; a segunda necessidade era a de busca de uma identidade e unidade teológica.
Desde os dias dos apóstolos estas necessidades já eram vistas, como podemos identificar no livro de Atos, na controvérsia sobre a circuncisão dos não judeus: “Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: é necessário circuncidá-los e determinar que observem a lei de Moisés. Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão. Havendo grande debate...” (Atos 15.5-7). No início do IV Século, a igreja possuía uma vasta rede presente em toda a extensão do Império Romano, além dos mais diversos tipos de conceitos sobre alguns assuntos, especialmente a pessoa teantrópica de Cristo (Deus-homem).
O imperador Constantino, convertido ao Cristianismo ou ao menos dele simpatizante, percebeu a força da presença da Igreja e usou de sua influência para unir e organizar a Cristandade. Quando construiu sua capital, Constantinopla, convocou uma grande reunião de bispos, das mais variadas opiniões, para definirem a unidade teológica da igreja em torno da pessoa de Cristo. Ele custeou uma reunião na cidade de Nicéia, vizinha à Constantinopla.
Em 325, reuniram-se 318 bispos de diversas parte do Império para tratar das controversas opiniões sobre a divindade e a humanidade de Cristo. Este concílio durou seis meses e produziu várias decisões, inclusive a deposição de bispos heréticos e novas regras de ordenação do bispado. Além destas coisas, legou para história o famoso Credo Niceno, uma fórmula de fé, baseada nas Sagradas Escrituras, que até os dias de hoje, toda a Cristandade aceita, inclusive os protestantes.
O Cristianismo passou a adotar o sistema conciliar como método para dirimir suas dúvidas e conduzir a sua Igreja. Do mesmo modo como em Atos, quando a decisão precisou ser promulgada e difundida, assim o cristianismo também, por meio das decisões dos Concílios se organizava e unia a sua enorme quantidade de igrejas e fiéis.
Quatro grandes concílios são considerados comuns a toda a Cristandade: Nicéia I (325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451). Desta forma a igreja tratava as heresias e sempre retornava aos princípios das Sagradas Escrituras. Desta forma, a Igreja Cristã mantinha e reforçava sua unidade. Assim a fé Cristã se desenvolveu ao longo de toda a Baixa Idade Média, nos seus primeiro cinco séculos de existência.


sábado, 20 de outubro de 2018

Antecedentes da Reforma - A Igreja Pós-apostólica


O final do Primeiro Século trouxe uma grande lacuna para a Igreja Cristã. A morte de João, na Ilha de Patmos, lançou a Igreja em um novo desafio: existir no mundo sem a presença de nenhum dos apóstolos.
Este período teve alguns momentos distintos, um início denominado “Patrístico”, quando a igreja foi conduzida por irmãos que haviam convido com os apóstolos e por meio do seu exemplo e escritos; um período posterior, conhecido como “Apologista”, quando teólogos da Igreja se puseram a lutar contra heresias que se espalhavam no seio do cristianismo e um outro período chamado “Ecumênico”, no qual a Igreja se organizou teologicamente em torno das decisões dos grandes “Concílios Ecumênicos”.
Os pais apostólicos foram um importante elo entre a igreja e a mensagem deixada pelos apóstolos e por Cristo. Foram eles que inauguraram a fase em que a Igreja começa a olhar para trás para construir sua fé. Eles nos levaram a perceber que a nossa fé foi estabelecida na mensagem que Cristo deixou aos seus apóstolos e estes à igreja, sobre o modo correto de ler e aplicar toda a Lei de Deus.
Entre os nomes mais destacados deste período encontramos: Clemente de Roma, Orígenes, Policarpo de Esmirna, Inácio de Antioquia, entre outros. Estes homens ofereceram vários escritos históricos, teológicos, cartas eclesiásticas, cartas a pessoas e deixaram um grandioso legado que hoje nos serve de referência para estudos sobre o desenvolvimento da fé cristã.
Um segundo momento da História da Igreja, no segundo e terceiro e até no quarto século, ficou conhecido como período apologista. Em virtude do surgimento de muitas heresias no seio do cristianismo, foi necessário que a fé cristã começasse a buscar a pureza da sua crença em Cristo e do ensino apostólico. Este foi um período especialmente teológico.
Nomes como Justino Mártir, Clemente de Alexandria, o próprio Orígenes, Atanásio,  entre muitos outros levantaram-se e iniciaram um outro comportamento, o de responder ao mundo as acusações falsas, bem como livrar o cristianismo das misturas indevidas das filosofias pagãs. Entre os maiores nomes deste período destacamos Aurélius Agostinus (354-420), também conhecido como Santo Agostinho. Ele se tornou um dos maiores teólogos de todos os tempos, levando a Igreja a um  aprofundamento teológico dos estudos das Escrituras Cristãs.
Todos estes nomes lutaram pela pureza e biblicidade da fé cristã. Esta foi uma temática da igreja: sempre retornar a Cristo.


sábado, 13 de outubro de 2018

Antecedentes da Reforma - Nos Dias da Igreja Primitiva


A Reforma Protestante de 1517 foi um movimento de transformação do próprio Cristianismo. Como numa casa, de vez em quando, fazemos uma limpeza retirando entulhos acumulados e ou reformamos cômodos que estavam deteriorados, as teses de Martinho Lutero foram o começo de um grande movimento de limpeza na teologia e prática da Igreja Cristã.
Com maior ou menor impacto, movimentos de limpeza e revisão da teologia e prática da Igreja Cristã já haviam acontecido em outros momentos da história. Afinal, desde o inicio da Igreja Cristã, mesmo ainda no período apostólico, sempre foi necessário reavaliar e reorganizar a vida da Igreja, trazendo-a de volta à pureza da crença e prática da fé, por meio da Palavra de Deus.
Paulo exortou os crentes de Corinto a retornarem à simplicidade do Evangelho (2Co 11.3-4), o que também já havia dito aos gálatas (Gl 1.6-9). João exortou os crentes da Ásia Menor a atentarem contra os falsos ensinos que estavam se cristalizando através da ação de falsos mestres e os seu espírito do erro (1Jo 4.1-6). Judas, por sua vez, resolve escrever uma carta, procurando prevenir a igreja contra práticas inoportunas que se instalaram na Igreja (Jd 1-4).
Ao longo de todo o período inicial do Cristianismo, chamado “Primitivo” e depois da morte dos apóstolos, foram necessários movimentos de purificação e correção do Cristianismo, trazendo de volta à crença e prática da Palavra de Deus.
O livro de Apocalipse é entregue às Igreja da Ásia Menor com uma série de recomendações à pureza da Igreja, exortando os irmãos ao perceberem seus erros teológicos ou de prática eclesiástica, convocando-as à reforma de sua visão e prática da fé: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap 2.4-5).
Portanto, como se pode notar, desde o período apostólico, a Igreja Primitiva é chamada a estar em constante “Reforma”, por isso é que dizemos: “Igreja Reformada Sempre Reformando”. Este movimento não é de mudança, mas sempre de “retorno”, sempre de reorganização da fé e da prática, segundo Palavra de Deus.
É sempre possível que nos afastamentos da simplicidade do Evangelho, incluindo em nossa prática pessoal e coletiva elementos que não estão de acordo com Palavra de Deus, por isso, sempre precisamos de “reformadores” que nos alertem e nos conduzam de volta.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O Canto da Justiça

Conjunto Instrumental "Eurípedes Rodrigues de Carvalho"
da Igreja Presbiteriana  Vila Formosa
A música é uma das mais poderosas ferramentas pedagógicas da humanidade. Calvino a considerava um valioso instrumento do culto a Deus:  E na verdade, conhecemos por experiência que o canto possui grande força e poder de comover e inflamar o coração dos homens a invocar e louvar a Deus com zêlo”(Pensamento Social e Econômico de Calvino -  André Bieler, 1990, pág.577).
Os Salmos formam um precioso hinário do Antigo Testamento e eram usados para ensinar, exortar e conduzir o povo de Deus no amor e temor do Senhor. Podemos dizer que um dos temas centrais dos salmos é "a justiça do povo de Deus". Não sem razão, o Salmo 1, anuncia que “O Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá”(Sl 1.6).
A justiça do Reino é cantada em muitos dos salmos e esta justiça é decorrente da própria natureza de Deus. Os justos prezam pelo caminho da justiça, por isso, os salmos celebram a justiça: “A minha língua celebrará a tua justiça e o teu louvor todo dia”(Sl 35.28).
Meus irmãos, a música cristã não tem como finalidade distrair, entreter e alegrar os homens, mas ensinar e fazer aprofundar em nossa alma a justiça do Reino: “Eu também te louvo com a lira, celebro a tua verdade, ó meu Deus; cantar-te-ei salmos na harpa (...) Igualmente a minha língua celebrará a tua justiça todo o dia”(Sl 71.22-24).
A música na igreja é mais que um “embelezamento” da liturgia. Antes, ela deve ser usada com o propósito de levar o povo de Deus à justiça da Lei do Senhor. Por isso, devemos executar nossa música com arte e com temor a Deus. A música da igreja deve cantar a verdade da Palavra e ser usada com muito temor. 
Cantar a Justiça do Reino e ensinar o caminho da retidão aos justos é um trabalho pedagógico ao qual a música cristã deve se prestar. Para tanto, o que precisamos investir nesta área é que homens e mulheres que amem e pratiquem a justiça, conforme as Escrituras ensinam, estejam à frente e sejam nossos líderes, compositores, interpretes etc. Músicos devem se especializar na arte musical, mas músicos da Igreja, devem antes, trilhar o caminho da justiça.

(Publicação em comemoração ao 20º aniversário do Conjunto Instrumental Euripedes Rodrigues de Carvalho da IP Vila Formosa).

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno


sábado, 18 de agosto de 2018

A Vitória Que Vence o Mundo

Cena do filme "The Pilgrim Progress"
Em dias de muita luta para a Igreja cristã, João escreve sua primeira carta com um nítido enfoque de incentivar a igreja a manter-se firme em sua fé e, para tanto, propôs algumas maneiras de nos certificarmos se estamos ou não andando firmes na verdade. 
O apóstolo desafia a igreja a manter firme sua confissão de amor a Deus, por meio do seu empenho de amar o próximo de forma verdadeira e concreta. Ele também provoca a igreja pelo teste da santidade, uma vez que o filho de Deus não pode amar o mundo e sua concupiscência. Por fim, para João, o crente demonstra sua fé por meio de uma doutrina verdadeira, segundo as Sagradas Escrituras.
O tema da Vitória é muito importante para João, especialmente quando lemos o livro de Apocalipse, onde ele repete insistentemente um conceito sobre a vida cristã: “Ao Vencedor” (Ap 2.7; 11; 17; 26; 3.5; 12 e 21). O próprio Senhor Jesus é o “Grande Vencedor”: “Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (Ap 17.14)
Para João, a nossa vitória é vitória sobre o mundo, isto é, ele considera que a vida cristã é uma batalha dos filhos de Deus contra as estruturas pecaminosas que organizam o mundo apóstata. O cristão não deve se deixar moldar pelo pensamento deste mundo e usar as armas do mundo como instrumentos de sua batalha. Vencer, para João, é confiar que viver de forma reta, justa e santa, conforme nos ensinam as Escrituras, é o único modo que nos leva a agradar a Deus: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo 5.4). 
Eu e você somos chamados a crer na vitória de Jesus sobre os poderes deste mundo e nEle depositar toda a nossa esperança (Jo 16.33). Para o cristão, vencer é viver confiando em Cristo e no seu poder e isto se prova por uma vida organizada de acordo com os mandamentos do Senhor (1Jo 5.3-5). 
Mais que a vitória em si, o modo como lutamos e as armas que escolhemos são sinais muito mais evidentes de que estamos fazendo o que é correto e a vitória. As armas que escolhemos para lutar e modo como empreendemos nossa luta neste mundo, podem ser sinais de vitória, muito mais importantes que as próprias vitórias em si. Mais que derrubar gigantes, lutar com as armas Deus é o que se espera de quem luta por Cristo neste mundo. 

sábado, 11 de agosto de 2018

A Importância da Obediência

Quando o povo de Deus pediu a Samuel que lhes desse um Rei, o homem de Deus ficou muito triste e pensou que havia uma rejeição à sua pessoa, Deus porém, corrigiu a Samuel dizendo: “...atende à voz do povo em tudo o que te diz, pois não rejeitou a ti, mas a mim, para que não reinar sobre ele” (1Sm 8.7). 
O que há de mais sério nesta palavra é que a rejeição de Deus como Rei, não significa apenas que eles queriam ter um rei como as outras nações, mas que desejavam viver neste mundo de Deus sem Ele e procurando viver de uma maneira que não tivessem a intromissão de Deus em seus gostos, escolhas pessoais e decisões existenciais. 
Mais tarde, ao resignar o seu cargo diante do povo, Samuel lhes confronta com uma palavra dura. Afinal, diante dos feitos de Deus em relação povo, especialmente dos dias de Moisés até a era dos juízes (1Sm 12.6-11), Samuel protesta que o povo havia pedido um Rei, porque não queria mais que Deus reinasse sobre eles: “Vendo vós que Naás, rei dos filhos de Amom vinha contra vós outros, me disseste: Não! Mas reinará sobre nós um rei; ao passo que o Senhor, vosso Deus, era o vosso rei” (1Sm 12.12). 
Entretanto, apesar deles terem intentado contra o governo de Deus sobre a sua vida, aquele era o povo da Aliança e Deus haveria de lhes abençoar e o ponto central para que eles pudessem, mesmo tendo rejeitado a Deus, restaurar essa relação, era que, tanto eles quanto o rei que eles haviam escolhido fossem obedientes: “(...) não temais, tendes cometido todo este mal; no entanto, não vos desvieis de seguir o Senhor, mas servi ao Senhor de todo o vosso coração (...) Poia o Senhor, por causa do seu grande nome, não desamparará o seu povo, porque aprouve ao Senhor fazer-vos o seu povo” (1Sm 12.22). 
Essa é uma das mais poderosas afirmações do amor gracioso de Deus, que leva o homem pecador a ser amado por Deus, mesmo quando este prefere deixa-lo. Entretanto, o alerta mais importante deste texto aponta para o fato de que a obediência a Deus é o sinal deste agir da graça. Em outras palavras, a minha obediência aponta para a graça de Deus que age em mim e cuida de mim de forma amorosa. Por outro lado, a perseverança na maldade, isto é, em viver sem Deus no mundo, trás terríveis consequências: “Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, tanto vós como o vosso rei” (1Sm 12.25).

sábado, 12 de maio de 2018

A Justiça e a Coerência da Vida Com Cristo


De alguma maneira e em alguma medida, todos os seres humanos estão em busca de uma resposta sobre a coerência de sua própria existência. Todos esperam que ao final de tudo haja alguma justiça e que  a confusa história da humanidade possua alguma explicação plausível.

Este sentimento de incômodo é parte de uma rica herança criacional, que Deus instilou na alma humana e que a pervade com uma inquietação na busca de sua própria eternidade: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3.11).
A rebeldia apóstata do homem levou muitos a uma atitude intelectual de negação da coerência criacional. Materialistas céticos acreditam que os acontecimentos da vida  não seguem nenhum propósito definido e negam qualquer possibilidade coerência na história.
Essa falta de esperança pode se tornar um fator altamente destrutivo para a alma humana. Pois, se não existe justiça e coerência e a vida é somente um incerto amanhã, existir é um ato fortemente deprimente e destituído de valor: “Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2.12).
O autor da Carta aos Hebreus, na intenção de fortalecer a esperança e o entusiasmo dos que estão em Cristo, apontou para o fato de que a vida cristã deve se nutrir da verdade de que Deus garante a  coerência e a justiça da nossa existência, mesmo que durante o trajeto da vida, tenhamos de enfrentar momentos difíceis: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que envidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos” (Hb 6.10).
Olhar para o futuro com esperança é marca distintiva do cristianismo bíblico (Hb 11.11-16). Tal esperança é construída na certeza de que Deus está dirigindo a nossa vida pelo melhor caminho possível, sem erros e ou imprevistos. Essa certeza nos motiva e da segurança para a caminhada: “Desejamos, porém, continue cada um vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança, para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas” (Hb 6.11-12).  
Ainda que a vida pareça confusa e até injusta muitas vezes, creia na esperança de que o Rei Jesus está no controle de todas as coisas, conduzindo sua igreja e preparando-a para a vida eterna. Existe coerência e justiça neste governo de Cristo sobre a Igreja e tudo isto está fundamentado no amor que o Rei Jesus tem por nós. O “Amor da Cruz” assentou-se no trono, na forma de um Cordeiro que foi morto, mas vive!

Rev. José Maurício Passos Nepomuceno

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O Senhor está no Trono

"No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono" (Isaías 6.1a). 

Uma pequena frase com uma maravilhosa e grandiosa lição para todos nós. 
Sem dúvida, o Rei Uzias foi um dos grandes monarcas da história de Judá. Seus feitos como governante trouxeram um sentimento de valor àquela nação e os enchia de orgulho, entusiasmo e grande confiança. 
Infelizmente, aquele grande Rei, também era um homem pecador e se deixou levar por sua certa vaidade e não resistiu em fazer aquilo que Deus não aprovava. A história dele, registrada no capítulo 26, do segundo livro das Crônicas, nos mostra que seu erro custou-lhe muito.
Contudo, apesar de seu erro no final do reinado, Uzias era considerado um dos grandes reis de Judá: "(...) divulgou-se a sua fama até muito longe, porque foi maravilhosamente ajudado, até que se tornou forte" (2Cr 26.15). O profeta Isaías foi um dos seus mais cuidadosos biógrafos (2Cr 26.22). 
Quando Uzias morreu, com ele, certamente, morreram muitas esperanças de glória em Judá. Em particular o seu biógrafo Isaías, filho de Amoz, deve ter se preocupado com o futuro da nação. 
As coisas não estavam muito bem no mundo em que Uzias e sua habilidade no governo eram uma garantia de confiança para Israel. Com a morte do Rei, certamente, as coisas poderiam mudar e uma sombria nuvem de incertezas pairava sobre a nação. 
Diante deste quadro temos a grande visão de Isaías e uma resposta de Deus para todos nós, que de vez em quando nos sentimos cercados de uma nuvem de desesperança. 
Isaías ainda tinha em mente a morte do grande Rei Uzias, mas quando Deus lhe traz uma visão profética, ele vê "O Senhor" (Adonai) sentado em um alto e sublime trono. 
Deus revela ao seu profeta que mesmo em meio às densas nuvens de incertezas, com poderosas nações inimigas espreitando oportunidade para dominar Israel, com homens maus desejando o poder, ele ainda podia descansar e confiar, pois no trono de todo o Universo quem está assentado é o Senhor. 
Apesar de todo o quadro triste de Judá naqueles dias durante o reinado de Acaz, a conspiração dos reis da Síria, Israel (reino do norte), as ameaças dos povos Egípcios e Assírios e a própria corrupção do coração do povo de Deus em Judá, Isaías ouve do Senhor palavras de esperança: "Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto" (Is 8.13). 
Deus, afinal, é quem realmente governa todas as coisas e se isto é assim, podemos confiar e descansar no seu poder e na sua fidelidade. Ao Senhor é quem devemos realmente temer, o homem nada poderá fazer, mas Deus é Senhor sobre todos.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Preparando o Sal no Fogo


Diante de mim, tenho uma passagem muito curiosa e desafiadora: “Porque cada um será salgado com fogo” (Mc 9.49). Nela, Deus anuncia a necessidade que temos de preparar a nossa vida para fazer a diferença.

Após a declaração de Pedro (Mc 8.29) e o ensino sobre o fato de que a Cruz é o caminho de Cristo e dos discípulos (Mc 8.34-35), Jesus começou a mostrar aos discípulos a necessidade de atuarem neste mundo caído e de apresentarem o Reino glorioso de Cristo, segundo regras de Deus e não dos homens (Mc 9.35). Por isso, ele os exortou a cuidarem do seu testemunho diante das pessoas: “E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível” (Mc 9.43). 

Sereis salgados com fogo - Logo ao fazer suas declarações sobre o sal, Jesus propõe a necessidade dos discípulos serem preparados para exercer o seu papel de testemunho do reino neste mundo. Primeiro, Ele diz que seremos tornados em "sal" por meio de uma forte ação purificadora, produzida por Deus. O sal foi usado por Cristo como elemento ilustrador da diferença com que haveremos de marcar o mundo. Já são conhecidas as virtudes do sal na preservação e na dotação de sabor, usando desta analogia, somos chamados para viver deixar clara esta diferença qualitativa. Para exercermos essa diferença com qualidade, precisamos que Deus promova a nossa transformação e Ele o faz por meio do fogo, que é o elemento mais comum nas Escrituras para a purificação, lapidação e limpeza dos metais.

Precisamos redescobrir que a verdadeira direção que Deus dará à nossa vida é a direção da Cruz, e isto implica em fazer perecer em nosso caráter as coisas próprias do pecado. Somente quando aprendermos a morrer para as velhas inclinações da carne é que poderemos nos tornar no sal de Deus para este mundo. 

Cada um será salgado com fogo - Um detalhe deste verso que não mencionamos é que este tipo de purificação poderosa de Deus não será a realidade uns poucos iluminados e escolhidos, mas, de todos os discípulos, pois todos passarão por estas provas. Incialmente, Jesus estava falando somente com os dos, porém, logo a história da Igreja provaria que esta era uma realidade para toda a Igreja: "Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo" (1Pe 4.12-13).

Certamente, se desejamos uma vida verdadeiramente piedosa e salgada para fazer diferença neste mundo, temos de nos preparar para as profundas lapidações do nosso caráter (1Tm 3.12). Na vida com Deus, não há espaço para manter partes não santificadas em nós, ao contrário, precisamos revelar o verdadeiro e perfeito sabor de Cristo, sem misturas do pecado. Peça a Deus para mudar a sua vida e não se inquiete quando Ele acender o fogo e te purificar, mas renda-lhe louvor!

sábado, 17 de fevereiro de 2018

A Estação da Cruz

Autor: Rev. José Mauricio Passos Nepomuceno

Quem assistiu os filmes de J.K. Howling, a série “Harry Potter”, está bem lembrado da “King’s Cross Station” (Estação Cruz do Rei) que, quase sempre, no início do filme era o cenário de partida de todos os alunos que se dirigiam à Escola de Magia de Hogwarts. Mas se você não assistiu o filme, também consegue compreender a importância do nome desta fictícia estação: Cruz do Rei.
"A Sombra da Morte" - Willian Holmes Hunt 
Um dos mais famosos quadros do movimento pré-rafaelita é do britânico Willian Holmes Hunt que se chama: “A Sombra da Morte”. Nele, o pintor retrata a carpintaria onde Jesus Cristo trabalhava com José, seu pai (Mc 6.3; Jo 6.42). A cena apresenta Jesus no centro do quadro, voltado para a luz, tendo sua sombra refletida na parede de fundo da carpintaria que, somada à paisagem do lugar das ferramentas, criava a figura da crucificação.
Eu acredito que este quadro retrata exatamente o que foi a vida de Cristo, isto é, um viver em direção à Cruz. Da mesma forma, creio que a “Estação da Cruz do Rei” também seja uma maneira correta de lembra  que, no caminho da coroação e da glória, Jesus teria de passar pela estação da Cruz.
Ao iniciar o seu Evangelho, Marcos nos diz que escreve para relatar a respeito de Jesus Cristo, o Filho de Deus. A certa altura da sua história, Jesus começou a ensinar que “era necessário passar pela Cruz” (Mc 8.31). Um detalhe importante do modo como Marcos apresentou este ponto da vida de Jesus é fato de que ele nos diz Jesus “ensinou sobre a necessidade da cruz” e não só anunciou um fato inevitável.
Certamente, a Cruz era uma passagem obrigatória para que Cristo Jesus completasse a sua obra e alcançasse a glorificação (Jo 17.1-3). Ele, entretanto, não somente nos chama a conhecer esta história e trajetória, mas nos convoca a fazer parte dela, carregando nós mesmos as marcas da sua cruz, afinal ela é a nossa glória (Gl 6.14-17).
Maturidade de fé implica no desenvolvimento de uma percepção daquilo que realmente vale a pena, do que enfim é o ponto importante da nossa existência, ou seja, aprender que  grande valor de tudo o que vivemos e desfrutamos na vida está no quanto tudo pode nos levar a uma relação pessoal e profunda com Deus.

Cena do Filme - Harry Potter e a Pedra Filosofal
Jesus, tendo em mente essa necessidade, ensinou aos seus discípulos o quanto era necessário que ele fosse levado à cruz. Mas, logo em seguida, apontou aos próprios discípulos o quanto é necessários que eles carreguem a sua própria cruz: “...a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34). Sem dúvida, a cruz é uma estação necessária para que sejamos aperfeiçoados e preparados para uma vida plena com Deus. Não existe atalhos para quem deseja servir ao Rei. A Cruz do Rei é o nosso ponto de partida e nossa garantia de chegada.