“A maçonaria não é coisa secundária, mas interfere em dogmas fundamentais. Acho nela incompatibilidades estabelecidas na Palavra de Deus. Não posso e nem devo recuar no terreno dos princípios. Voto contra a proposta. Assim Deus me ajude. Amem” - com essas palavras, em 31 de julho de 1903, o Rev. Eduardo C. Pereira votava na reunião do Sínodo e, seguido de outros pastores e presbíteros, selava a cisão na Igreja Presbiteriana do Brasil.
A questão maçônica começou a agitar a Igreja Presbiteriana Brasileira, a partir de São Paulo. Eduardo C. Pereira mantinha, desde 1893, um jornal na Primeira Igreja: o Estandarte. Em 1898, publicou uma série de artigos do Dr. Nicolau S. do Couto Esher, entitulados: “A Maçonaria e o Crente”.
Naqueles dias, a ligação entre os evangélicos e a maçonaria era amplamente aceita. Em muitas cidades, onde as lojas maçônicas eram abertas, boa parte dos seus filiados eram evangélicos. Essa ligação entre igreja evangélica e maçonaria está bastante debatida no tema conhecido como “A questão religiosa brasileira”.
Os artigos do Dr. Nicolau suscitaram muitos debates entre os presbiterianos, em particular os pastores aderentes e não aderentes da maçonaria. Em julho de 1899, subiu ao Presbitério de São Paulo uma consulta indagando se o crente poderia ou não se filiar à maçonaria. Em 1900, na reunião de julho, o Sínodo pela primeira vez, discutiu a questão.
A Comissão nomeada para apresentar um parecer ao documento, concluiu o seu relatório dizendo que a escolha em participar da maçonaria ou não era do foro íntimo da consciência de cada um. O Rev. Eduardo C. Pereira apresentou suas objeções ao relatório e o resultado final da votação foi pelo relatório como estava.
Com o resultado, o Rev.. Carlos E. Pereira pediu sua renúncia como professor do seminário e, a Primeira Igreja de São Paulo foi transferida para o Presbitério Oeste de São Paulo. O Concílio pronunciou-se contra os artigos do Estandarte e declarou nota dizendo que o jornal não era órgão oficial da IPB.
Com essa discussão, a Igreja Presbiteriana do Brasil começava a enfrentar uma das suas mais profundas discussões teológicas no ambiente nacional. O presbiterianismo paulista esteve na frente dessa discussão e com isso passou a ser o centro das atenções nacionais. Veremos no próximo boletim como essa discussão provocou o cisma de 1903.
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