domingo, 17 de janeiro de 2021

A Expectativa da Redenção


A Bíblia é o livro da Redenção. Podemos dizer que ela nos revela o processo dinâmico da Criação-Queda-Redenção. Em outras palavras, Deus, na sua Palavra, conduz a nossa mente a perceber o que de fato é a realidade que nos cerca e como devemos nos relacionar com os fatos desta realidade de um modo positivo e teocentrado.

A Bíblia nos foi dada para revelar como Deus criou o mundo perfeito e como o homem se desconectou deste Criador, pela ambição de querer viver no mundo de Deus de uma forma autônoma.

Também a Bíblia nos diz como o amor de Deus pelo mundo se manifestou no desejo divino de revelar a sua graça de forma experiencial ao homem, redimindo-o deste cativeiro do pecado e trazendo-o, por meio da justiça eterna, de volta à comunhão plena com a realidade, que é mediadora da presença divina para a mente humana.

A “Obra da Redenção” é o foco primário da Sagrada Escritura! Essa Redenção de todas as coisas ocorre por meio da obra salvadora do Redentor, que é Cristo, o Filho Encarnado. Por isso, também podemos dizer que Cristo é o centro da Revelação, porque nEle, todas coisas retomam seu verdadeiro significado e sentido.

Considerando, portanto, essa essência redencional da Bíblia, precisamos que nossos pensamentos sobre a vida e os fatos que nos cercam, sejam tomados em nossa mente como aspectos da obra de redenção que está sendo proporcionada para cada um de nós e todos nós simultaneamente, pela ação divina no mundo.

Certa expectativa dessa redenção deve sempre fazer parte de nossos anseios e participação neste mundo. Devemos perceber e trabalhar no mesmo fluxo desta redenção, levando cada pensamento e momento existêncial à submissão ao desejo redentivo de Deus. Também devemos nos posicionar como agentes redentivos e cooperadores desta obra, por meio de nossas ações concretas como cooperadores de Deus.

Deixar de desejar ou trabalhar pela Redenção de todas as coisas é errar profundamente o propósito da existência cristã. O cristão não pode assim se chamar se sua vida não adentra esse universo proposicional de servir para a libertação dos homens nas suas diversas esferas de cativeiro: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18-19).

Ana, a profetisa octagenária, descrita por Lucas como mulher fiel e consagrada, ao ver Jesus no templo falava a respeito deste menino a todos os que “esperavam a redenção”. Deus tem prazer em revelar aos seus filhos amados os seus segredos, nos fazer conhecedores da obra maravilhosa que Ele está fazendo, para nos resgatar das trevas e nos transportar para um Reino de Luz, onde tudo o que existe tem nos faz sentir sua presença gloriosa.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Rede de Consolação


O apóstolo Paulo viveu sua fé sob constante pressão. Ele nos diz que foi perseguido, açoitado, preso, apedrejado, viveu em perigos entre falsos irmãos, teve sede, fome, sentiu frio etc (2Coríntios 11.23-27). Não bastasse todos este sofrimento para exercer o seu ministério, também sentiu a angústia  e a preocupação com as igrejas: “Além destas coisas exteriores, há o que sobre mim pesa diariamente, a preocupação com as igrejas” (2Coríntios 11.28).

O pastorado de Paulo foi assim, um labor de muito amor em meio a sofrimentos. Por isso, ele sempre pedia às igrejas que orassem por ele para que Deus o confortasse em suas jornadas e labores. Assim, ele sempre estava pronto a reconhecer que Deus era a origem de toda a consolação: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação” (2 Coríntios 1.3).

Theos Paraclésos (Deus de Consolação) - Consolador é aquele que se coloca ao seu lado em meio ao seu sofrimento. Ele lhe serve como uma espécie de confortador, quando as dores parecem tomar o centro da sua vida.

A segunda Carta aos Coríntios era aquela carta do desabafo de Paulo. Nela, o apóstolo apresenta o seu sentimento como “pai na fé” para os crentes de Corinto, falando-lhes sobre as lutas que vem sofrendo em seu apostolado, especialmente, para ver os convertidos andarem no caminho de Cristo. Paulo compreende que o trabalho que faz em estar ao lado dos irmãos em momentos difíceis para lhes servir de consolo é fruto da sua própria experiência em meio à luta. Portanto, para o apóstolo Paulo, é necessário conferir sentido aos próprios sofrimentos, identificando-os como preparação divina para que possamos ajudar outros que sofrem: “É Ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2 Coríntios 1.4).

A Igreja se pastoreia por meio do consolo. O dever cristão de estarmos conectados uns aos outros não deve ser um acontecimento apenas com finalidades doxológicas, mas também terapêutica. A Igreja é uma comunidade terapêutica, na medida em que servimos de companhia e conforto para que em meio às suas dores, no suporte que podemos dar uns aos outros, os irmãos se sintam apoiados.

As nossas experiência em meio à dor, precisam se tornar em ferramentas para que outros consigam  se apoiar nos nossos ombros calejados para vencer suas lutas. Isso faz da conexão de nossas vidas uma rede de consolo, onde todos podem encontrar conforto para hora oportuna. Pela mesma razão, aconselhou aos tessalonicenses: “Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente (1Ts 5.11) e para Roma ensinou: “Chorar com os que choram” (Rm 12.15b).

Assim, a Igreja será instrumento de Cristo para que o próprio Cristo enxugue as nossas lágrigas: “Bem aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4). Por isso é nossa missão tornar a nossa Igreja em uma rede de consolação.

 

domingo, 3 de janeiro de 2021

Um Só Rebanho e Um Só Pastor

A linguagem ilustrativa é uma arte. Usar figuras para ensinar é um método muitíssimo eficaz, pois a mente humana foi criada para imaginar, isto é, dar significado e utilidade à imagens cognitivas construídas para interpretar a realidade que nos cerca.

Deus nos revelou a Verdade a respeito de si mesmo por meio destas imagens, que faz impregnar em nossa mente: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O salmista afirma que não há linguagem formal, senão aquela que se deixa ver, as imagens das coisas criadas, nos revelando o Criador das coisas.

Muitas imagens são utilizadas na Bíblia Sagrada e transportadas para o nosso universo de conhecimento para nos ajudar a compreender a Verdade da realidade e uma destas imagens é a figura do “pastor de ovelhas”.

“O Senhor é o meu pastor e nada me faltará” (Sl 23.1) - O pastor de ovelhas é a figura campesina, própria da época bíblica em que vivam os profetas e reis de Israel. Eles representavam muito bem, a figura de cuidado, liderança, exemplo e proteção que Deus queria que o povo aprendesse a respeito dEle próprio e daqueles que Ele escolhia para andarem à frente do povo.

Embora a Bíblia tenha sido escrita ao longo de quase dois mil anos, a figura jamais deixou de ser importante e, até aos dias de hoje, graças à própria Bíblia, continua gerando o conhecimento necessário para que vivamos e desfrutemos de um abençoado relacionamento com Deus e com sua santa providência.

Jesus atribuiu a si mesmo a imagem do pastor: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). Assim, Deus deixa o patente desejo de nos conduzir pela vida, levando-nos pelos mais seguros e abençoados caminhos verdejantes, onde a justiça e o amor são as experiências comuns (Sl 23.1-3). O contraste que Jesus aplicou à ideia de um pastor bom é o do mercenário, alguém cuja finalidade não é o cuidado do rebanho, mas o egoísmo, pois é movido pela ganância e a covardia. Em face do perigo,  deixará o rebanho sem proteção (Jo 10.12-13).

O Bom  Pastor, por sua vez, está ali, mesmo que seja um vale de morte (Sl 23.4) para dar a própria vida para salvar seu rebanho (Jo 10.15). Ele faz isso porque há comunhão entre ele e suas ovelhas: “...então, haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10.16). Esse é mais elevado amor que existe, aquele em que o Pastor e a ovelha se tornam um só corpo, como um casamento. Eles vivem juntos para sempre, onde está um, está o outro também (Sl 23.6).

Jesus nos pastoreia exatamente para essa comunhão eterna, que nos faz ver a vida do seu modo e nos leva a vivenciar a sua presença constante. Para este pastoreio, Cristo usa a Igreja e, através de cada um de nós, mantém o seu cuidado, proteção e amor. Somos os braços, a voz, a vara e o aconchegante colo do Bom Pastor, uns para os outros. Neste ano de 2021, o Pastoreio do Rebanho será a nossa comida e a nossa meta como Corpo de Cristo. Participe disto conosco!

Autor: Rev. Maurício Nepomuceno