sábado, 23 de agosto de 2014

Notas do Diário de Ashbell Green Simonton - "A Oração"

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno
(textos extraídos de "O Diário de Simonton - 1852 a 1866" - Ed. Cultura Cristã - 2002)
Filme: "O Diário de Simonton" - LPC

Um homem que deseja fazer a obra do Senhor terá de ser um homem de oração. Ninguém viverá na força do Espírito se não lançar sua voz ao céu para clamar por ajuda. Um homem que se cala para o céu não pode resistir na luta contra o seu pecado e do mundo que o cerca. Simonton, pelas lides contra o pecado e o perigo, aprendeu o valor da oração e seu ministério. Por isso foi conduzido por Deus a ter um coração quebrantado que se abria sempre para o céu.
Dias antes de aportar no Rio de Janeiro, após um incidente em alto mar que quase o levou a naufragar, ele registrou: “Foi um temível momento de suspense; mesmo assim, eu me mantive perfeitamente calmo. (...) Mas desde o princípio entreguei os meus caminhos a Deus e dei-lhe a direção da minha vida; desde então o sentimento de segurança jamais me abandonou. O Deus que ouve e responde as orações arrebatou-me do caminho do perigo e da provável destruição” (Diário, 4/08/1859).
Helen Simonton
Quando lemos as páginas do diário de Simonton o que vemos não é um missionário auto confiante, que viveu segundo suas forças, mas um jovem que  se achava sempre inapto para cumprir a sua obrigação. A oração foi um suporte para sua autoconsciência de fraqueza: “Minha religião é muito morta, minhas orações caem por terra, faltando-lhes o impulso do sentimento jubiloso e vivo. Por isso vou implorar a Deus. Vou buscar a renovação de minha vocação (...). Senhor, fala comigo como fizeste com Pedro, convencendo-me da necessidade do amor e produzindo em meu íntimo, por Teu poderoso comando, a graça celeste que me capacite a alimentar Teus cordeiros e Tuas ovelhas” (Diário, 31/12/1859).
Os dias próximos da morte de Helen (esposa) figuram entre os mais marcantes da vida de Simonton.  E ele registra em seu diário o conforto que recebeu de Deus na oração da própria Helen, quando percebia se avizinhar a morte: “Muito quieta e calma ela orou mais ou menos com essas palavras: ‘Senhor Jesus, venho a ti, não que eu tenha algum valor, sinto que não tenho. Tenha piedade de mim e receba-me, Senhor Jesus’. Então orei como pude. (...) Bendigo a Deus porque a surpresa deste golpe não me deixou carente de preciosas palavras de consolo e desse testemunho de que o seu Salvador estava com ela no vale escuro” (Diário, 28/06/1864).
Uma intensa vida de oração é uma valiosa joia para quem almeja uma fé arraigada em Deus. Pois na oração, dominamos nosso coração com a ajuda que vem do alto e nos propomos a viver na dependência exclusiva do Deus vivo.


domingo, 10 de agosto de 2014

Notas do Diário de A.G. Simonton - Um Servo Confiante no Seu Senhor

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno
(textos extraídos de "O Diário de Simonton - 1852 a 1866" - Ed. Cultura Cristã - 2002)

O jovem pastor Ashbell G. Simonton jamais desejou ser um herói, ou mesmo uma figura histórica. Sua motivação para a obra missionário nasceu de uma rica experiência pessoal com a graça de Deus, que lhe incutiu no coração um senso de dever para com o Evangelho. Em seu diário, antes mesmo de viajar para o Brasil ele registrou: “Assumi os votos feitos por meus pais em minha infância “para ser do Senhor”, e fazer do Seu serviço o supremo objetivo da vida. Para que todo o caminho que eu tomar seja marcado por sua Palavra e Sua Providência, jamais me deixarei afastar do caminho que Ele indicou; especialmente se Sua Vontade clara me indicar o Ministério, para lá irei com alegria e zelo” (Diário, 6/5/1855).
Esse anseio de cumprir o seu papel como servo de Deus conduziu Simonton nos seus primeiros anos aqui no Brasil de tal forma que mesmo a morte de sua amada esposa em 1864 não o impediu de seguir adiante com sua missão. Aquele ano tão repleto de tristezas, ainda guardaria algumas importantes conquistas para o jovem pastor, pois, entre outras coisas, Simonton iniciou a publicação do primeiro jornal evangélico brasileiro “A Imprensa Evangélica”. Esse grande feito, Simonton atribuía a Deus: “Pressionado com os problemas da casa, com a necessidade de recursos para o bebê e com a preocupação da Imprensa, sinto-me exausto e acabado. Dois números já saíram. Recobrei a saúde e o equilibro de espírito e estou mais confiante e esperançoso. O Senhor provará e dirigirá, é agora minha canção e certeza” (Diário, 26/11/1864).
Helen, filha Simonton, foi conduzida para a casa de sua irmã, Elizabeth Blackford, em São Paulo, onde seria melhor cuidada. Ele, entretanto, seguiu sua jornada pela implantação da reforma protestante no Brasil. Em 1865, foi à cidade de Brotas e lá, teve um dos momentos mais entusiasmados de sua missão, quando um grande número de pessoas passou a ouvi-lo e a considerar a mensagem protestante: “Nunca vi tão bem a excelência do Evangelho e sua perfeita adequação para convencer e salvar os que estão ansiosos e desejam conhecer a verdade. O interesse desses dias foi absorvente; explicava-lhes a verdade, respondia-lhes às dúvidas, etc. Encontrei melhores sentimentos e sinceridade religiosa nessa comunidade e passei a alimentar maior esperança de uma rápida propagação do evangelho no Brasil” (Diário, 2/5/1865).
Simonton, podemos dizer, era um homem que confiava exclusivamente em Deus. Ele não buscou ser um herói, mas um servo humilde, dedicado e aplicado em dar o melhor de si para o Reino de Cristo. Estas passagens do diário falam disto.


domingo, 3 de agosto de 2014

Notas do Diário de Ashbell Green Simonton - A Entrega Pessoal

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno
(textos extraídos de "O Diário de Simonton - 1852 a 1866" - Ed. Cultura Cristã - 2002)

Simonton nasceu em West Hanover no Estado da Pensilvânia. Aos 22 anos fez sua pública profissão de fé e desejava ardentemente servir ao Senhor. Entrou para o Seminário de Princepton e ali seu coração se encheu de paixão missionária, até que se apresentou à Junta Missionária para ser enviado à América do Sul.

Rio de Janeiro em 1889
Em 12 de agosto de 1859, depois de uma longa viagem de quase dois meses em um navio, ele desembarcou na Baía de Guanabara. Em seu diário ele escreveu: “É difícil descrever as emoções com que saudei estes elevados píncaros (uma referência ao Corcovado e ao Pão de Açúcar). O sentimento predominante é de alegria, pela conclusão feliz da longa jornada, aliado ao temor da grande responsabilidade e dos problemas do trabalho que me espera” (Diário, 11/08/1859).
Simonton aprendeu rapidamente o português e em seu primeiro ano no Brasil já iniciou uma escola dominical com os filhos de amigos e vizinhos. Ele também registrou no seu diário: “Este é o primeiro ano completo que passo no Brasil. Essa escola, algumas Bíblias e folhetos postos em circulação constituem o conjunto do meu trabalho entre os brasileiros. Sinto a minha falta de fé e oro por sucesso. Almejo pregar Cristo mais experimentalmente por ser capaz de falar daquilo que conheço, porque Cristo o revelou a mim” (Diário, 20/01/1861). E já no ano de 1862, iniciou a primeira igreja, com a recepção de duas pessoas por pública profissão de fé.
Em 1863, depois de uma viagem para os Estados Unidos, Simonton se casou com Helen Murdoch e isto deu início à uma nova fase no seu ministério: “Para mim, meu futuro lar no Brasil colore-se de cores vivas. Dou graças a Deus por ter me provido graça, coragem e amor no coração daquela a quem dediquei minhas afeições, a ponto de se dispor a se separar de amigos, do lar e da terra natal, a fim de compartilhar da minha vida e dos meus labores” (Diário, 23/02/1863).
Imagem do Boletim da IP Tubarão
Entretanto, a alegria destes momentos seria interrompida um ano depois por um trágico acontecimento, pois no dia do nascimento de sua filha Sarah, Helen faleceu. Mais uma vez, o diário de Simonton revela o coração de sua vida: “Deus tenha misericórdia de mim, pois águas profundas rolam sobre a minha alma. Helen jaz num caixão na sala. Deus a retirou tão rapidamente que parece um sonho” (Diário, 28/06/1864).  
Assim começou a vida e a obra do pioneiro do presbiterianismo na terra brasileira. Um jovem, dedicado ao Senhor, que apresentou a sua vida para ser instrumento de Deus para salvar outras vidas. Assim, cremos que Deus ainda hoje quer usar pessoas para continuar essa obra, superando obstáculos e se dispondo a seguir em frente, mesmo que diante das situações mais complexas e doloridas da vida.