sexta-feira, 27 de março de 2015

As Razões de Um Choro - Mensagem Pastoral do Domingo de Ramos 2015

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno
Chorar é uma das reações mais impressionantes da psique humana. Choramos quando estamos tristes e também quando estamos alegres; como desabafo ou pedido de socorro; por questões pessoais e por causa de outras pessoas. Enfim, o choro é uma reação complexa e há vários motivos pelos quais somos levados a chorar.
“Quando ia chegando, vendo a cidade chorou” (Lucas 19.41) - neste registro bíblico, tomamos ciência de que Jesus chorou ao  aproximar-se de Jerusalém, para aquela que seria a mais marcante de todas as semanas de sua vida humana, a semana da crucificação. Por que Jesus chorou? Que sentimentos se aprofundaram na alma de Jesus que levaram-no ao pranto por causa de Jerusalém?
O texto nos oferece uma possível resposta: “te arrazarão e aos teus filhos dentro de ti... Porque não reconheceste a oportunidade  da tua visitação” (Lucas 19.44). O choro de Jesus tinha como motivação: o  fracasso da fé do seu povo e os seus decorrentes sofrimentos. 
Toda a história da salvação está ligada à tristeza do coração de Deus, porque nós o rejeitamos e deixamos o seu caminho (Gn 6.5-6). Por isso, da mesma forma, Jesus chora diante da poderosa incredulidade do ser humano. Na esteira do mesmo sentimento, o salmista também chora  copiosamente pela falta de amor ao caminho de Deus e à sua Lei: “Torrentes de água nascem dos meus olhos porque os homens não guardam a tua lei” (Salmo 119.136). E quanto a você, o que lhe faz chorar? Seria capaz de chorar porque o povo de Deus está sendo consumido pela incredulidade?
Os textos bíblicos estão repletos de ensinos sobre os resultados desastrosos do pecado e a triste condição daqueles que vivem segundo a obstinação de seu coração rebelde. Contudo, muitas vezes, a atitude daqueles que são chamados para a vida com Cristo não parece refletir esse entendimento.
Jesus não chorou por causa dos infortúnios que o esperavam em Jerusalém. Ele pranteou em favor da vida do seu povo. Pois a morte se fazia presente ali, mas sua Cruz era a porta da vida que seria aberta em Jerusalém. A Cruz de Cristo nos leva ao choro. Mas diante dela, não pensemos apenas nos infortúnios de nosso Mestre, mas no amplo alcance da vida que ele nos deu, em sua chorosa cruz.
Nesta semana da crucificação, deve haver espaço para o choro daqueles que veem, na salvação dos perdidos, uma razão para viver.  

sexta-feira, 20 de março de 2015

Com Foco na Vida

Autor: Rev. José Mauricio Passos Nepomuceno

Dias atrás, li no Facebook a mensagem de uma jovem que dizia: “o importante é viver, estou focada na minha vida”. Eu a conheci, quando sua vida estava ligada à fé em Cristo Jesus, mas, depois de algum tempo, tornou-se mais inclinada a buscar sua auto realização, desenvolvendo-se no trabalho e no envolvimento com a sociedade humana em geral.
Não sejamos hipócritas, todos nós, em uma certa medida e cada um na sua, também temos expectativas de auto realização neste mundo. Desejamos ter melhores condições de vida material, ser respeitados na sociedade, reconhecidos de forma positiva entre as pessoas do nosso círculo de relacionamentos etc.  Tudo isso reflete o impulso natural de manter o foco na própria vida.
Jesus Cristo também manteve o foco na vida. A diferença significativa entre Ele e nós é que Ele focava não na “própria vida”, mas na “nossa”. Certa feita, passando por Samaria, os samaritanos se recusaram a lhe oferecer pousada, porque viram, em seu semblante, que estava decidido ir à Jerusalém (Lc 9.51-53). 
Pelo modo como Lucas relata esse episódio, inserindo a nota explicativa “ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu”, podemos inferir que, para o evangelista, toda a caminhada de Jesus tinha como objetivo completar sua missão de nos salvar, pela morte da cruz em Jerusalém. 
Algumas das ênfases do Evangelho de Lucas recaem sobre o fato de que os homens, até mesmo os cristãos, perdem o discernimento de que a vida deve ser medida de uma maneira mais elevada do que apenas a temporalidade ou a materialidade da presente existência: “...porque a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui” (Lc 12.15b). Por isso, Jesus insistia em que o seu discípulo deveria ter uma visão correta sobre vida e fazer escolhas superiores: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14.33).

Nestes dias que antecedem a Páscoa, ou a Cruz de Cristo, somos chamados a falar com Deus sobre a nossa própria vida. Ninguém pode passar e olhar para Cruz com segurança eterna, se não tiver realmente foco na verdadeira vida, que implica em aprender a morrer para viver (Lc 17.33). Quem não consegue sentir prazer em morrer para si mesmo e receber a vida de Cristo, vive  pequeno, projeta para si mesmo uma curta alegria e não tem foco na vida!

sexta-feira, 6 de março de 2015

A Solução é Voltar Para Casa.

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno

Noticiários do Brasil dão conta de que uma lista, contendo nomes de vários políticos, foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal ensejando que sejam realizadas investigações de casos de corrupção, do famoso escândalo da Petrobrás. Em outro caso, tomamos conhecimento de um juiz, responsável por julgar os crimes do mais famoso empresário brasileiro das últimas décadas, Eike Batista.

Eike é investigado por crimes contra o sistema financeiro, cometidos quando percebeu que suas multi-empresas estraram em colapso, puxado pela quebra da sua petroleira OGX. O juiz, responsável por julgar este caso, após determinação de apreensão de bens de Eike, foi flagrado usufruindo dos seus bens, ao ser visto dando uma “voltinha” em um carro Porsche de propriedade do investigado.

Políticos, juízes, policiais, líderes religiosos, compradores de CDs, DVDs ou programas de computadores pirateados, propinas, gatos elétricos, manipulação de planilhas de imposto de renda etc.. Estes são exemplos que conhecemos muito bem e que estão presentes no cotidiano da sociedade brasileira. Mas o que fazer? Será que somos uma sociedade “endemicamente” (natural de um povo) corrupta?

Talvez, nossos avôs e avós diriam: estes moços não tiveram educação? Creio que este é um ponto muito importante para a nossa reflexão. O que estamos perdendo são os valores básicos que poderiam nos oferecer resultados melhores. Por isso é que eu digo que  “a solução é voltar para casa”. Como na parábola da dracma perdida, eu diria que nossos valores se perderam dentro de nossas casas e é lá que iremos reencontrá-los.

Dizem que o problema da criminalidade será resolvido por uma escola melhor. Mas não existe escola melhor se não houver famílias melhores. Crime, corrupção, falhas morais são males que prescindem de lares construtores de valores.

Noutra parábola, a do rico e Lázaro, Jesus discute sobre os valores que nortearam a vida do rico e de sua família. O Mestre afirma que a solução para a reestruturação dos valores de sua família é: “Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos” (Lucas 16.29). O rico retrucou, mas Jesus lhe disse duramente que nada mais poderia lhes mudar o coração. Precisamos reativar o poder dos bons lares cristãos, construídos sobre a Rocha, calcados e alicerçados nos valores eternos do Reino. As casas cristãs são importantes para a restauração da sociedade brasileira, precisamos lembrar disto.