sexta-feira, 10 de junho de 2011

As pontes vivas de Cherrapunji e a Construção de Igrejas Duradouras

Autor: Rev. José Maurício Passos Nepomuceno

Assisti certo documentário sobre as "Pontes Vivas de Cherrapunji" e fiquei impressionado com a determinação dos indianos daquelas regiões, os construtores das tais pontes. Na verdade, trata-se de um sintonia entre humanos e natureza no objetivo de vencer os obstáculos das correntezas sinuosas e pedregosas dos rios da região. 
Às margens dos rios caudalosos e mesmo dos riachos daquela região, nascem árvores, parecidas com aquelas dos mangues brasileiros, cujas raízes parecem-se muito com cipós. Os habitantes da região, há centenas de anos, descobriram que podiam usar o crescimento dessas raízes a seu favor. 
Então, o que eles fazem, dia após dia, mês após mês, ano após ano, eles vão às margens e vão amarrando as pequenas raízes, procurando dar-lhes a direção que querem, visando entrelaça-las, formando um forte cordão de raízes entrelaçadas. O que desejam fazer é criar uma estrutura que ultrapasse por cima do rio. 
Imagine que o resultado é o que podemos ver na foto acima, uma estrutura viva que serve de ponte natural-viva para a passagem de um lado a outro do rio. O que me espanta nessa história é que uma ponte destas, não é um trabalho de alguns dias, meses ou anos, mas um empreendimento de vidas inteiras. 
Na verdade, quando um morador local começa uma ponte destas, sua família continua a sua obra, que termina em três ou quatro gerações depois. Ou seja, trezentos ou quatrocentos anos em um projeto de vida, cujo o objetivo é abençoar os que virão depois. 
Essa história me impressionou muitíssimo por conta da dedicação destes construtores, seu respeito à natureza, mas principalmente, sua determinação em favor das futuras gerações e isso me levou a refletir sobre a "construção de igrejas duradouras". 
Aquela trança de raízes, realizada ao longo de décadas ou centenas de anos, são como as nossas construções mais importantes, nossos valores e ideais, os quais preservamos e construímos e oferecemos como legado para os que vêem depois de nós. 

Vivermos em uma sociedade extremamente consumista, que, de certa forma, incentiva um espírito depredador. Este comportamento é marcado pelo hábito de usufruir sem se envolver, sem participar, senão dos privilégios e benefícios oferecidos, para depois largar e partir para outra fonte. Assim, os vêem depois recebem apenas carcaças e construções sem vida. 
Imagine se em Cherrapunji, um geração resolver que não irá mais trançar raízes! O trabalho de seus antepassados será totalmente perdido e os seus herdeiros serão mais pobres e terão mais dificuldades e, em muitos casos, sequer poderiam recomeçar. 
Nossa responsabilidade é muito grande e é dupla: primeiro, devemos valorizar o trabalho de todos os que nos antecederam nessa jornada e, em segundo lugar, precisamos deixar pontes fortes para que as próximas gerações usufruam e sejam enriquecidas por nossos trabalhos. 
Construir "Igrejas Duradouras" não é uma tarefa simples, que se faz em um, dois ou três meses e anos, mas é trabalho de vidas inteiras. Vidas que se deixam trançar umas às outras, corajosamente vencendo obstáculos e permitindo com que os que vierem depois busquem outros desafios ainda maiores.
Não tenho dúvidas de que as pontes vivas de Cherrapunji resistirão ao tempo e todas as maiores enchentes. Também não tenho dúvidas que Igrejas construídas com este nível de preocupação e desvelo haverão de permanecer. Sobretudo, permanecem se suas trançadas tiverem uma única raiz original: o fundamento dos apóstolos e profetas, a Sagrada Palavra de Deus, que é encarnada no Verbo Divino, Cristo Jesus. 


3 comentários:

  1. Este post em especial não foi publicado no Boletim da Igreja Presbiteriana de Vila Formosa.

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  2. O comportamento 'predador' não deve ser justificado com as palavras de Jesus: "eu vos enviei para ceifar o que não semeastes". Pois o processo é contínuo e "orgânico", efetuado através de nós.

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  3. Com certeza Gabriel! A construção que somos chamados a fazer jamais será predatória, já que é baseada no amor que edifica. O que a expressão nos ensina é que o processo de ceifa ocorre porque a matéria prima foi plantado pelo próprio Deus.
    Abraços

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